Daniel Campos

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26/06/2016 - Mais que um conto de fadas

Era uma vez, no Reino Capital, por entre as árvores tortas, coloridas e resistentes, cachoeiras e palácios feitos de curvas, céu azul e estrelado, a história de uma menina-mulher ou uma mulher-menina, como quiserem, chamada Ludy.

Ela trabalhava e sofria humilhações como Cinderela. Ela tinha sede por liberdade como Rapunzel. Ela era desprovida de medo como Chapeuzinho Vermelho. Tinha sono de Bela Adormecida e o encanto de Branca de Neve. E era bela como todas elas juntas.

Aliás, mais bela não havia, porém, depois de tanta crueldade, ela nem se achava dona de tal beleza. Era triste, cabisbaixa, com olhos doloridos e uma vontade imensa de ser feliz.

Ludy fugia de um bruxo, que tentava escravizá-la de todas as formas. Além do bruxo obsessivo, sua mãe a explorava e suas irmãs morriam de ciúme de seu brilho. Isso sem falar de uma tia implicante que vivia para tramar contra sua felicidade. Ela sofria calada e fazia de tudo para proteger o seu maior tesouro – seu anjo Guel.

Como era lindo o amor dos dois, que viviam um para o outro. Porém, muitas coisas ameaçavam essa união. Lutando pela vida, encontrou muitos e muitos que a quiseram prejudicar, mulheres que queriam roubar a sua beleza e homens que queriam usá-la das piores maneiras.

Ludy nunca havia conhecido uma família de verdade, tampouco havia sido amada de forma verdadeira. Costumava dizer que havia nascido para sofrer e que não podia mudar isso. Ainda novinha, deixou a casa da mãe em busca de um lar. Acabou virando empregada na casa da tia.

Fragilizada, caiu no feitiço de um bruxo. Foi trancafiada numa espécie de masmorra. Sofria na pele e no coração uma série de perversidades. Branca, vivia roxa. Seus lindos olhos verdes-esmeralda eram emoldurados por olheiras de tanto choro. Enfraquecida, foi levada ao submundo. Tentaram tirar o melhor dela, deixando-a presa ao sofrimento.

De tanto se sentir só e pedir por uma família, os céus colocaram Guel em seus braços. Ele, como um anjo sem asas, a daria forças para que ela lutasse por sua vida. E com o nascimento, ela ganhou uma alma de leoa, que rugia por seu filho. A coragem a levou a fugir do bruxo, voltando para a casa da mãe, que a recebeu com doçura.

No entanto, o doce logo teve gosto amargo. A mãe queria dinheiro, vida boa e alguém para ouvir suas lamúrias. A tia insistia em colocar as garras sobre ela, obrigando-a a rezar suas intermináveis ladainhas. E o bruxo insistia em aterrorizá-la. No entanto, ela continuou trabalhando, lutando e acreditando em dias melhores. Ninguém sabia como ela, com apenas 18 luas, resistia a tantos golpes e tramas.

Foi então que o bruxo se fez de bonzinho e foi se reaproximando e, na primeira oportunidade, sequestrou Guel. Ludy foi impedida de ver a razão de sua vida. Ficou desesperada, lutou, lutou, lutou até cair. Ficou depressiva e presa, mais uma vez, ao sofrimento do submundo, passando a conviver com as piores criaturas.

Foi quando, mais uma vez, os céus interviram e colocaram um príncipe em seu caminho. Dan se apaixonou por ela à primeira vista e se empenhou em ajudá-la como fosse, fazendo de tudo para devolver a felicidade para Ludy, que perdia o brilho a olhos vistos. Até seus cabelos ensolarados estavam se rendendo às sombras.

Pouco a pouco, Ludy foi se deixando ser ajudada e conhecendo o amor verdadeiro. Tempos depois, ciente de que não havia vivido nada daquilo antes em sua vida, conseguiu dizer eu te amo. Juntos, se fortaleceram e descobriram mundos novos.
O príncipe duelou com o bruxo e Guel voltou aos braços da mãe. No entanto, voltou com uma marca do bruxo. A cada vez que visse Dan e Ludy juntos, o menino gritaria, choraria, espernearia para não permitir o amor dos dois.

Por mais que se esforçasse e soubesse que a culpa não era de Guel, o príncipe viu a situação sair do controle muitas vezes. De longe, o bruxo gargalhava. E por mais algumas vezes se aproveitou da insegurança que ele havia marcado em Ludy para semear a separação do amor verdadeiro por meio de desconfianças.

Por mais que Ludy e Dan se amassem, sabiam que existia algo os ferindo e distanciando. Porém, a paixão e o amor de almas sempre venciam e eles acabam juntos, nos braços um do outro, como duas metades perfeitas. O sentimento dava demonstrações de uma nobreza inacreditável. No entanto, o bruxo não desistia.

Ele invocava cada vez mais poderes sombrios para atiçar a insegurança de Ludy e a birra de Guel. Ela chegava a dizer coisas que não queria. Ela chegava a fazer coisas que não queria. Ela chegava a sentir coisas que não queria. O que o bruxo não contava era que o príncipe tinha uma capacidade sobre-humana de perdoar.

Porém, num desses conflitos, eles se afastaram e a teimosia impediu que eles se vissem novamente para, mais uma vez, reatar por meio do sentimento que havia de maior entre os dois. Ninguém entendia porque não se viam, pois não estavam brigados, não sentiam raiva um do outro, não queriam ficar longe. Mas ficavam.

Ludy foi ficando fria e a dor foi consumindo Dan, deixando-o sem forças para lutar. Então, passaram-se dias, semanas, meses. Dan não quis saber mais de nada, perdeu tudo o que tinha, inclusive, o gosto pela vida. Só nunca deixou de escrever para Ludy por meio de sinais de fumaça, mas acreditava que ela não lia nada do que ele enviava pelo vento.

Até que um dia, ela respondeu a um desses sinais. Dan, como se renascesse, recobrou as forças e foi lutar por Ludy. Levou a melhor violinista de seu reino, as flores do jardim real, e o anel de diamante, símbolo maior de sua família. Então, foi em busca de Ludy. Mas ela, desiludida com o sumiço do príncipe, estava vivendo com um ogro que havia conhecido no submundo.

Mais uma vez, o príncipe lutou, lutou, lutou por Ludy. E, mais uma vez, ela resistiu. Ela resistiu ao amor verdadeiro. E, dessa vez, uniu-se ao ogro para atacar Dan, colocando soldados para impedir que ele se aproximasse dela, sob ameaça de prisão. Mesmo arriscando sua vida, uma vida que só fazia sentido ao lado dela, o príncipe continuou. E Ludy, que não se conformava em um príncipe amar uma plebeia, pediu um tempo para tentar entender tudo o que acontecia. Sua insegurança a vitimava e a afastava de sua felicidade. E ela torturava o príncipe com um silêncio avassalador.

Nas garras da dúvida, mesmo sem saber rezar, ela pediu uma resposta aos céus. Ela sabia que ele a amava verdadeiramente, mas queria saber se podiam ser felizes para sempre como ela sempre desejou. Foi então que olhando uma das três rosas coloridas que o príncipe havia lhe dado, rosas que jamais haviam secado, ela feriu o braço num espinho. Do ferimento surgiu uma rosa, como uma tatuagem.

No entanto, a rosa que era rosa, passou a vermelha de sangue e depois a azul. Pétalas e mais pétalas azuis. Ela entendeu o sinal. Tinha sangue real. Sangue azul. Poderia viver feliz ao lado do príncipe que tanto amava. Era princesa e não se dava conta disso.

Assim, sem dúvidas, ela correu ao seu encontro e ele a tomou em seus braços. Num beijo de amor mais do que verdadeiro todas as maldições foram quebradas. Ludy se iluminou, Guel se tornou um cupido para o amor dos dois, o bruxo perdeu suas forças, o ogro voltou para o submundo, sua mãe, sua tia, suas irmãs se renderam à luz do romance e todos, em família, foram felizes para sempre, sem mais desconfianças, sem mais atritos, sem mais distâncias.

Ludy e Dan ainda tiveram uma filha muito festejada, a princesa Lara, que reinou ao lado do anjo Guel naquele lar que mais parecia um reino encantado, onde rosas azuis se abriram por todos os lados e o amor daquele casal real, depois da noite escura, amanhecia sempre jovem e apaixonado, no melhor do "e foram felizes para sempre".


Comentários

26/06/2016, por Aline Castro Souza:

Que romântico!

26/06/2016, por Ana Laura:

#shippando encantada


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