Daniel Campos

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14/09/2011 - Fugas de pesadelo

Ela acordou de um pesadelo real ou imaginário. Às vezes quanto mais absurdo o espanto mais palpável o medo vivido durante o sono. Seja o que fosse, perdeu o sono e ficou pensando naquilo que tanto a assustara. Seus olhos secaram como que inteiramente tomada por uma estiagem particular. Não quis ler, tomar um chá, engolir um remédio, fazer um telefonema, ligar a televisão... Ela não gritou, não suou, não tossiu, apenas ficou paralisada no seu canto da cama como que enfeitiçada por uma espécie de presságio maléfico, inevitável e tão concreto quão sua insônia.

Era como se ela tivesse se posto em alerta. Só que ao contrário de temer o mundo exterior, temia o que brotava de suas entranhas. Seu rosto bonito, angélico, escondia os labirintos e porões de sua alma. Eram tantos pensamentos negativos encurralando seus eus nas masmorras de seu inconsciente. Um território denso, escuro e pesado, povoado de criaturas, trevas e loucuras. O terror se alastra dentro dela. Não está imune às palavras e ao sentimento corrente. Tenta amanhecer diante do pânico de cair novamente no sono e ser tragada para dentro de si.

E se ela fosse novamente capturada pelo mundo proibido e hostil que ardia por debaixo de sua pele? Ela não queria encarar aquele cenário, sentir aquelas sensações, viver aquelas perdas outra vez. Tudo o que não queria ou que não podia ou que não devia havia varrido, prendido, rendido em seu lado oculto. No entanto, com o passar dos anos, esse amontoado de descartes e fugas e prisioneiros não coube mais em seus compartimentos e começou a extravasar como uma espécie de lixo tóxico. Durante a noite, sob o silêncio de sua guerra psicológica, o perfume do medo dominava seu ser causando-lhe as mais diversas reações.


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