Daniel Campos

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20/07/2013 - Ficância

Fica para sempre ao meu lado um pouco mais. E que o que for vivido nesse conjunto de estar junto se intensifique e se multiplique mais e mais. E que, no mais, o ficar perto seja entendido e praticado como muito perto. Fica porque ficar é uma forma de abdicar da cólera da separação que soluça lá fora sem pedir perdão. Fica aqui, por favor, fica aqui porque tudo mais é solidão e suas conseqüências. Fica, por mais que eu peça para ir embora, fica. Fica como se não houvesse outra opção além de ficar e ficar e ficar.

Fica com ou sem jeito. Fica em minhas costas, minhas pernas, meus olhos, minhas mãos, meu peito. Fica se fazendo de louca. Fica sempre muito mesmo quando pouca. Fica deixando no ar que para sempre vai ficar. Fica sem questionar. Fica a ponto de me pedir para poder ficar. Fica totalmente intensa e (in)discreta. Fica se fazendo de canção. Fica até pegar no sono. Fica como pássaro que fica mesmo com a porta da gaiola aberta. Fica como se tivesse costume e ciúme das coisas que também ficam.

Fica rente a mim. Fica ao lado meu. Fica fora de si, dentro de mim. Fica no silêncio dos gritos. Fica no burburinho das horas. Fica e não demora em ficar mais um pouco. Fica perto mesmo quando longe. Fica em mim e não se esconda. Fica entre meus pensamentos. Fica flechada, tatuada, colada, amarrada, cravada, abotoada em mim. Fica como luz na minha sombra. Fica como retrato na minha moldura. Fica sem que seja preciso pedir, mandar, exigir, tocar no tema. Fica como se fosse um dos meus poemas.


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