Daniel Campos

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05/08/2008 - Êxodo

O ar é seco. Desce rasgando pela garganta e maltrata o pulmão faminto. O vento, tal e qual quem não toma banho há semanas, corre sujo pelos céus. A poluição deixa de ser um índice científico e se transforma em um gosto indesejado em nossa boca. Ao contrário de água, a chuva é de fuligem. A popular "queimada" vai descendo dos céus e rabiscando nossos rostos e roupas de carvão. Os bois emagrecem nos pastos. O sertanejo chora diante da flor da seca que brota em espinhos na sua lavoura.

As matas ardem em fogo. Plantas e animais têm queimaduras de primeiro, terceiro, quinto graus. Os rios secam e expõe seu leito cheio de rachaduras. Os peixes, que ainda não aprenderam viver fora da água fria, morrem. Os pingüins não resistem e esquentam até morrer. O berro de fome da cabra mexe com os nervos da gente. A cada novo inverno seco, o mundo fica mais extinto de vida. A paisagem deixa de ser colorida e se colore em tons pastéis. A grama se desmancha em nosso caminhar. Tudo virá pó e a poeira dança em nosso caminho.

Já há múmias, camelos e faraós andando pela rua, tão bem adaptados ao clima desértico. Há quem implore por uma gota d`água. A asma, bronquite, rinite tiram o sono das crianças. A aflição da falta de ar ronda os lares. A gripe faz a festa. Sucos e refrigerantes ganham cubos e mais cubos de gelo. As geleiras derretem. Os esquimós saem para passear de sunga e biquíni. A carruagem de Apolo, que conduz o sol, fica mais próxima de nossas cabeças a cada segundo. Tudo parece confluir para um grande êxodo. Mas para onde nós vamos?


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