Daniel Campos

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10/08/2014 - Durma bem

Durma, durma ao meu lado, de um jeito agarrado, sonhando com reinos longínquos. Durma abraçando meu corpo num ângulo oblíquo. Durma, durma falando comigo numa língua encantada. Durma não se fazendo de rogada. Durma com esses olhos descendo como cortinas ao final do espetáculo. Durma me envolvendo em mil tentáculos. Durma, durma como menininhazinha que pede proteção só por capricho. Durma, durma me transformando ora em príncipe ora em bicho. Durma, durma ensolarando minha noite. Durma, levando-me à boca do açoite. Durma, durma querendo-me sempre mais perto, puxando-me, agarrando-me, sufocando-me. Durma, amando-me. Durma, escolhendo de pronto o seu lado da cama, mas querendo ocupar todo e qualquer espaço. Durma, fazendo-me subir pelos seus laços. Durma, dobrando esse corpo de ginasta. Durma, no que lhe falta de pudor no que lhe sobra de casta. Durma, durma sem exigir antecipados sonhos ou nada de pesadelos. Durma exalando perfume de seus cabelos. Durma, durma sem pressa de acordar. Durma, durma, durma até o mundo que não nos é favorável se acabar.


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