Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
07/03/2012 - Caminhante da noite

Ah! Se eu pudesse abrir a janela da noite e sair caminhando em direção à linha do horizonte. Seguiria meu destino pisando em nuvens, tropeçando em vagalumes, desviando de teco-tecos. Tiraria a roupa e os sapatos porque os astros e as estrelas andam nus. Deus também anda nu, tanto que assim nos entregou à Terra e assim nos recebe de volta. Por falar no divino, caminharia roçando os pensamentos os anjos do baixo clero. Flutuaria, planaria, boiaria, volitaria, voaria, ascenderia...

Sentir-me-ia como uma antítese de Apolo. Ao contrário do sol, a minha carruagem traria os encantos noturnos. Pisaria metaforicamente nas cidades iluminadas. Velejaria pelas luzes e velaria com atenção os jantares à luz de vela, as rezas em torno de uma vela, a vela sobre um bolo de aniversário, o samba da vela e as velas que margeiam um corpo já sem vida. Se eu pudesse abrir a janela deixaria a noite entrar em mim e nessa sala de modo que ela varresse dos nossos organismos todo resquício de sol.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar