Daniel Campos

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16/07/2013 - Boldo encantado

A poucos passos de casa, ficava o quintal de dona Adélia, onde, entre outras ervas medicinais, localizava-se o pé de boldo milagreiro. Para quem herdou problemas de fígado e de estômago da mesma, aquele pé era um deleite para a saúde. Quantas as vezes que já cheguei perto dele com uma perna no além e após mastigar ou amassar aquelas folhas eu renascia. Era questão de segundos. E quando era ela ou seu Líbio quem preparava, como uma espécie de ritual, aquela macerada melhor ainda eu ficava.

Para a minha total tristeza, os dois se foram muito rápido, assim como o pé de boldo, por mãos que não respeitaram seus poderes curatórios. Nunca mais consegui encontrar um boldo igual aquele, de cujas folhas um sangue verde escorrida de forma tão densa que parecia xarope. Os boldos que faço hoje em dia são ralos, sem gosto e as propriedades encantadas que aquele tinha de sobra. Hoje, quando adoeço, padeço pela falta daquelas folhas viçosas. Aliás, o pé era tão frondoso que mais parece uma árvore.

O que eu mais peço é que dona Adélia ou seu Líbio, os responsáveis por aquela proeza, apareçam alguma noite dessas lá no meu quintal para plantarem por ali uma muda aquele santo remédio. Enquanto isso, eu sigo com uma saudade tão amarga quanto boldo.


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