Daniel Campos

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05/07/2008 - Bebendo Darcy Ribeiro

Mesmo diante do advento da lei seca e do bafômetro rolando de boca em boca igual paixão em época de carnaval, não tenho com o que me preocupar. Afinal, só bebo Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Garcia Marquez, Carlos Drummond, Fernando Pessoa e tantos outros 20 anos blues. Hoje mesmo vou beber uma dose caprichada de Darcy Ribeiro e o convido, caro leitor, a sentar-se nessa mesa sociológica comigo.

Para começar, vamos nos embebedar daquela famosa máxima darcyniana: "só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar". Assim como o filósofo mineiro, não vou me resignar nunca. E o Brasil deveria fazer o mesmo. Não deveríamos renunciar ao direito de ser feliz, de ter esperança, de sonhar com um mundo melhor, de amar numa mais que completa falta de limites... Por que vamos deixar que coloquem travas, freios, amarras, barreiras ao nosso desejo de "ser"?

Quer mais uma dose? Pois lá vai: "mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada". De que adianta o medo de sofrer, de fracassar, de não dar certo. O medo é o pior inimigo que podemos ter. E olha que há muito tempo vivemos essa cultura do medo. Nos anos 60, o medo subverteu a ordem e tivemos uma revolução humana. Se Darcy Ribeiro tivesse medo em tentar alfabetizar as crianças, salvar os índios, diminuir as desigualdades sociais teria fracassado e não seria Darcy Ribeiro.

Agora, a saideira: "nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo". É verdade, são muitos os fatores que nos impedem de ser brasileiros de fato e de direito. O Brasil se construiu queimando milhões de índios. Depois, queimando milhões de negros. Atualmente, queima milhões de mestiços que dão lucro às classes dominantes. Embora nós estejamos à mercê de um inverno seco e de uma lei seca, que as queimadas sociais e humanas não prosperem.


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