Daniel Campos

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26/11/2012 - A chuva vem...

Lá vem a chuva, lá vem a chuva, lá vem a chuva, a chuva vem e...

O bêbado enche o copo e toma uma dose de chuva. A moça pensa que o céu é um imenso chuveiro e sai cantando pela rua. O lavrador, de tanta felicidade, dança no ritmo da chuva. Enquanto tem gente correndo, há gente se entregando à chuva. O cachorro se chacoalha tirando de si todo o peso do mundo. Os apaixonados caminham entrelaçados sob o mesmo guarda-chuva. Há quem levante um brinde ao fim da estiagem. A cama ganha colchas e cobertas. Os peixes sobem à flor d’água. O coração de açúcar derrete. A viúva se lembra do marido chegando com a chuva e fica a esperá-lo no portão. Para não estragar os sapatos, a mulher prefere seguir descalça.

A erva-daninha cresce e se multiplica desesperadamente no meio do jardim das rosas, que foram despetaladas pelos pingos mais grossos. A comida ganha mais tempero e calor. A noiva se preocupa com seu vestido branco. Há quem aproveite para lavar o corpo e a alma. O gato se esconde como se visse o diabo. O homem de alma sertaneja tenta beijar a chuva. Quem espera pelo avião sente um friozinho na espinha. As crianças brincam nas poças d’água para a loucura das mães. As lágrimas ficam mais doces. Com as plumas molhadas, o voo do pássaro é mais lento. A rezadeira pede chuva mansa nas voltas de seu terço. A mulher amada ganha contornos e tons mais sedutores no meio da chuva.


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